Fotos para e-commerce, ou: “quem tem pressa, come cru"
Como você já sabe, as fotos para e-commerce tem uma função. E se por um lado elas podem até não custar tão caro assim, dependendo do seu caso, isso não quer dizer que não devam ser planejadas com o devido cuidado. Nesse contexto, eu não conheço uma expressão melhor que “quem tem pressa come cru”, para responder ao mantra dos apressados: “preciso disso para ontem”. Já disse isso a alguém? É provável que sim.
Em todo caso, eu não estou aqui para julgar, mas apenas para relatar um fato que constato no mercado em que atuo: a maioria dos meus atendimentos envolve gestores que tem (muita) pressa. Em geral, é porque as fotos do site ou do catálogo em questão ficaram por último na escala das prioridades (ou variações disso).
Um exemplo recorrente é o de lançamentos de lojas virtuais: normalmente, todos estão ocupados com dezenas de atividades a fim “colocar o site para rodar”. Então, com um prazo mais apertado que sapato novo (já me procuraram a uma semana do lançamento!), alguém é designado para c-o-m-e-ç-a-r a fazer cotações… Para piorar, entre o início das pesquisas e a escolha do profissional, facilmente pode-se gastar metade do tempo disponível. Como estamos falando de um e-commerce novo, a quantidade de produtos é grande e por tabela, a de fotos é maior ainda. Aí começa a corrida contra o relógio e tudo é choro e ranger de dentes, como você já verá.
TROCANDO O PNEU COM O CARRO ANDANDO
Anteriormente, falei que a função das fotos para e-commerce não é meramente estética, que elas precisam ser fiéis ao produto vendido e esclarecer dúvidas. E é claro que isso requer planejamento, mas num contexto de desespero, isso já terá perdido a importância lá para trás. O importante agora é “colocar o site para rodar”. Na prática, durante a sessão fotográfica isso significa frases como: “assim tá bom, vamo que o tempo tá acabando”, ou “deixa, não vai dar tempo”, sobre qualquer cuidado adicional com os itens fotografados, algo que seria perfeitamente possível se não fosse o temido “deadline”.
Mudanças repentinas de rota, quase sempre são um problema para as fotos para e-commerce. Por exemplo, dia desses estava fotografando calcinhas, apenas closes-ups do meio da cocha até a cintura, coisa simples. Mas eis que quase no fim do tempo contratado da modelo, o cliente retorna à sala e comenta: “poxa o pessoal tem pedido fotos de corpo inteiro… tem como fazer?”. Não se tratava de descartar o que já havia sido feito (menos mal), mas sim de acrescentar algo que não havia sido tratado antes.
Vejamos os riscos disso:
- Não vai dar tempo: intervenções aos 45 do segundo tempo são inviáveis e consomem o tempo que era precioso para aquilo que ainda precisava ser feito e foi interrompido.
- A qualidade VAI cair: mesmo que dê tempo é inviável, e geralmente, não se pode esperar outra coisa senão a queda da qualidade do material produzido a toque de caixa, já que tudo será feito em um prazo ainda mais apertado. No caso que citei acima, por exemplo, a modelo não estava maquiada para o tipo de foto que o cliente pediu e muito menos havia peças que combinassem com o novo tipo, mas como não havia mais tempo, “foi assim mesmo”. Alguma coisa sempre fica para trás.
- Podem faltar recursos: entre outras coisas, o briefing serve para que o fotógrafo e os demais profissionais envolvidos provisionem os recursos necessários para o trabalho em questão. Um desses recursos é o próprio tempo (principalmente se a sessão envolver um estúdio alugado e outros profissionais além do fotógrafo), mas vários materiais podem já ter acabado ou simplesmente nem estar acessíveis.
- O custo vai aumentar: creio que isso dispensa explicações.
DETALHES MAL PENSADOS
Nas fotos para e-commerce, os detalhes devem destacar um ou mais aspectos específicos do objeto: funcionalidades, medidas, sua proporção em relação a outro objeto ou ao corpo de quem o usa, a textura do material, etc. Mas se a pressa imperar, você já sabe: é provável que isso seja esquecido, deixado de lado por falta de tempo, ou resulte em fotos sem sentido. Por exemplo, observe que a foto da esquerda, embora seja bem executada, é difícil saber o que ela mostra exatamente, causando mais dúvidas do que esclarecimentos.
Agora, ela passa a fazer sentido quando colocada em conjunto com outra, de forma complementar. Fica fácil perceber do que ela trata, pois está salientando uma função do produto, algo que ambas seriam incapazes de demonstrar sozinhas. O problema é que esse tipo de solução requer um mínimo de reflexão sobre as possibilidades de demonstração do produto na foto, pois apesar do briefing, certas coisas só se notam prática. Mas com pressa, elas passam despercebidas. Aliás, reparou que o mesmo produto está com cores diferentes? A pressa de receber as fotos editadas…
o seguro morreu de velho
Eu disse em outro texto que as fotos para e-commerce constituem uma tarefa entre tantas, no e-commerce, e que a venda é o resultado dessas tarefas todas juntas. E se uma falhar… Eu sei, você tem pressa. E quem não tem? Mas tenha em mente que quando seu site estiver pronto, suas fotos já precisam estar lá, aguardando para serem publicadas, então evite deixá-las por último no seu cronograma. Pense com antecedência sobre o que pretende mostrar, para otimizar o tempo e não ser redundante ou negligente. Converse com sua equipe e também com seu fotógrafo a respeito, e definam juntos as diretrizes do seu projeto fotográfico, para que você possa recuperar no tempo certo o investimento que fizer.